12 de fev. de 2003

Post velho.

Luis Fernando Veríssimo: O PROFETA

Não. Não se trata de mais uma crônica do meu queridíssimo autor. Trata-se de uma profecia.
Surpresa, não imaginava isto quando distraidamente deixo entre minhas mãos, cair da estante da biblioteca um livro do Veríssimo.
Imaginei: Depois de uma semana inteira de chuvas, e agora uma semana toda de sol sem trégua, nada como Histórias Brasileiras de Verão - as melhores crônicas da vida íntima, do (óbvio) Veríssimo.
Não resisti e acabei pegando também Os Meninos da Rua Paulo, de Ferenc Molnár. Aliás, um título atraente para qualquer paulista que já ligou o rádio um dia e ouviu uma música do roqueiro grupo Ira!. E certamente, nunca mais a esqueceu. São inesquecíveis.
Mas não vim falar de rock. Vamos ao que interessa.
Fui à biblioteca devolver o incansável (quem sabe alguém lê isso e toma coragem pra ler?) Os Sertões, de Euclides da Cunha. De praxe, pego outro livro qualquer. Não importa o tamanho, assunto ou interesse. Só para não perder o costume de ler. Só para não me enfurnar em casa, sem ter desculpas para ver a cara do sol ou do pessoal da biblioteca, que merece só elogios...
Até aí, tudo bem.
Eu, julgando o livro do Veríssimo uma literatura leve (bem mais leve que Os Sertões, com certeza absoluta), no mesmo dia, assim que voltei da biblioteca e depois de ter almoçado um almoço sem muita criatividade (por causa do calor), abri o livro e o engoli, entornando frase após frase, goela abaixo (ou poderia dizer olhos abaixo...), quando lá no finzinho do livro, leio o seguinte trecho:
Múltipla escolha (página 251)
(...)
3) Você não passa no vestibular. você: (olha que opção! E eu que antes de ontem acabei de saber que não passei no vestibular...)
a) pensa em se matar, pensa em se dedicar ao crime, finalmente decide fazer um curso técnico, torna-se líder sindical, depois entra na política, acaba sendo o segundo torneiro mecânico eleito presidente na História do Brasil: (isso me deu um estalo! Como podia o Veríssimo saber em 1999, ano da publicação do livro, que um torneiro mecânico, é claro que estou falando do presidente Lula, viria a ser presidente da república em 2003???)
b) tenta de novo, e de novo, e de novo e acaba casando com uma viúva rica que é, inclusive, dona de uma universidade. (seja como for, nesta crônica, acabei ficando com a segunda alternativa, excluída a viúva...ou poderia ser viúvo?)
Mas ficou totalmente sem importância depois que li mais à frente outra crônica, PURFAS, na página 259, e vi o quanto eu era arcaica, retrógrada, atávica.
Era apenas uma crônica de auto-crítica do autor, que se achava meio por fora das tecnologias e linguísticas atuais. ele fala dessa coisa de digitalizar tudo. De não se comprar mais um livro: downloadear.
Ri de mim mesma.
Ninguém sabe que tudo que coloco no meu site é antes, tudo feito à mão. Papel, canetinhas coloridas... e pasme! Todos os testos antes são escritos à máquina de escrever. Isso mesmo: Aquela geringonça barulhenta, pesada, sem auto- correção ou fontes bonitinhas. Tudo varia entre maiúsculas e minúsculas, e entre o preto e o vermelho. Só. E sem Arrobas (@)...
Agora compreendo claramente os porquês que nunca iria me acostumar com a alta tecnologia: gosto de livros, revistas, jornais de papel, dos vinis e das fitas k7, da minha querida máquina de escrever (que mesmo sobre extenso apagão, não pára de trabalhar) e (claro!) tudo de mais interessante captado na Internet, impresso em papel, devidamente arquivado, ali, ao lado dos jornais...
Ainda me pergunto por quê não me livrei do celular...
De qualquer modo, mantenho meu site assim, devidamente atualizado.
Ah, esses jovens de hoje! Vai entender...
Lu (prestes a fazer 22 aninhos em um dia destes de março...)

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